Um leitor deste blogue, Jorge Ferreira certamente muito interessado/atraído pela compra de um Kindle coloca-me a questão de ser eventualmente "arriscado" comprar agora um novo Kindle, que poderá ficar obsoleto em poucos meses, devido ao eventual lançamento de um Kindle com ecrã a cores.
Em primeiro lugar agradeço muito a sua mensagem.
Relativamente ao ecrã a cores para o Kindle, é evidente que ele irá surgir, a questão é saber quando...
Com efeito, há alguns meses atrás a Amazon adquiriu a Mirasol, empresa que estava a tentar produzir um ecrã de "e-ink" a cores. E não é segredo que Jeff Bezos, o CEO da Amazon, na última apresentação de resultados da empresa referiu que já existiam protótipos em laboratório.
De qualquer forma duvido seriamente que a Amazon lance até ao Natal um Kindle a cores. Esse produto, quando for lançado terá de ser algo mais que um leitor de ebooks, terá de entrar no terreno dos Tablets e afins...
Se formos a ver bem, a função principal de um leitor de ebooks é... permitir a leitura de livros que até aqui líamos em papel e que passamos a poder comprar sem ter de entrar numa livraria nem de ter acesso a um computador, e livros que podemos transportar connosco às centenas (aliás milhares...), podendo escolher aquele que mais se coaduna com o nosso estado de espírito em cada momento.
Se falamos de Literatura a cor é algo de verdadeiramente dispensável. É por isso que o Kindle, tendo um ecrã a preto e branco, se tem vindo a impor de forma tão "estrondosa". Quem desejar adquirir o Kindle para ler Literatura pode pois, em meu entender, comprar os modelos do Kindle já disponíveis.
Quando surgir um Kindle a cores, esse será um produto complementar ao existente, que não deixará de ser obsoleto nem um pisa-papéis caro. Será que posso dizer isso do meu Kindle 2 de 6 polegadas, comprado há menos de um ano por 389 USD + despesas de envio e taxas alfandegárias? Certamente que não. Não me arrependo um minuto de o ter feito, tal o prazer de leitura que o Kindle me tem proporcionado. E a Amazon tem-se encarregado de dar apoio a esse prazer, com actualizações de software que aumentaram o período de vida útil da bateria e as funcionalidades do software. O mesmo equipamento faz agora mais e melhor, não ficou obsoleto com o surgimento dos novos modelos.
É certo que o lançamento de novos produtos na área da electrónica de consumo atinge na actualidade um ritmo quase diríamos vertiginoso, mas perguntem aos "early adopters" da Apple ou da Amazon se estão insatisfeitos por terem adquirido as primeiras versões dos produtos destas empresas. Quase ninguém dará uma resposta negativa.
Uma outra nota que queria deixar é que, se está a pensar encomendar o novo Kindle 3 com Wi-Fi por 139 USD mais taxas, não espere pagar o mesmo valor, nem valor semelhante, para um eventual novo Kindle a cores lançado no Natal ou pouco depois.
Um Kindle a cores de 6 polegadas deverá custar sempre um valor a rondar os 400 USD (para mais) mais despesas, pois o segmento que vai procurar conquistar estará bastante mais próximo do iPad. E em termos técnicos, para além do custo coloca-se a questão da bateria. Uma das grandes vantagens do Kindle é a autonomia da sua bateria. Com uma leitura diária um pouco superior a uma hora/dia e a ligação 3G desligada uma carga completa do Kindle suporta cerca de três semanas sem necessidade de carregamento (digo-o por experiência própria); um ecrã a cores gasta muito mais energia que os ecrãs actuais pelo que autonomia do equipamento será igualmente "sacrificada" (ou o lançamento do produto adiado, para permitir atingir níveis semelhantes de autonomia).
Penso ainda que seria talvez uma decisão comercial um pouco "estranha", no mínimo, lançar tantos modelos diferentes num espaço de tempo tão curto; isso poderia confundir um pouco o mercado e provocar uma certa "canibalização" de vendas entre os diferentes Kindles, criando desconfiança no consumidor, que tenderia a esperar sempre pelo "próximo modelo".
Um Kindle a cores, para não ser um "tiro no pé" terá pois de ser muito bem ponderado, quer em termos de preço, timing de lançamento e sobretudo de aplicações adicionais disponíveis (jogos, calendário, melhor browser para acesso à web, etc, etc), de forma a poder competir no mercado dos tablets onde o iPad é "rei e senhor".
Estas são apenas algumas considerações minhas... resultado de alguma investigação que tenho vindo a fazer sobre o Kindle e o mercado dos ebooks, a verdade é que, como se sabe "o segredo é a alma do negócio. É um lugar-comum mas que se aplica perfeitamente a esta situação.
Boas leituras a todos,
no Kindle ou nos "bons velhos" livros.